Chicote atrás da porta

qual irmã antecipará o estalo.

Cachorro motociclista de pernas abertas no velotrol

banco cimentado sem encosto.

rio de gelatina azul, avião de asas plásticas laranjas

cilindro de oxigênio oco, único brinquedo dilacerado.

Temporal de xilofone em orquestra de panelas

Variant levou a cabeça do menino

porta de madeira inacessível

paredes de madeira

cisne de alumínio soterrado em lago de suspiro

gemas lava de açúcar

o menino ficou deitado no beiral da estrada, sem cabeça.

Cinco irmãs se odeiam, o irmão natimorto.

passos continente quadrados ínfimos. O puteiro era moradia, a farmácia

era moradia e a moradia não era de ninguém.

A brisa nos ombros do avó fictício.

Morte rondava casa cogumelo da coruja vulcanizada em borracha.

Bicicleta de assento caixote.

Cabelos lisos arrondavam-me os olhos, enquanto procissão d’órbitas etiquetavam-lhe flores na camiseta quimera. Um levante de lembrança, teus cabelos de garupa.

O trono marmoreio por um sopro não fincou a cabeça do fraterno à borda, enquanto braços estendiam-lhe o recém pescoço ao precipício.

Eu cotovelo, catapulto rolimã torpedo à estratosfera do teu crânio na travessia gravitacional. Burlada em tardio nas arestas través do varal, amparo das asas dos pintinhos arremessados ao alto por mal.

Rolamento sangra corpos no piche seco. Ponta da madeira astravasa coluna lombar, parafusa-me os joelhos à prancha tal cabeça perseguida e salpicada no pedrisco da parede.

Cinco irmãs competem pela miséria do chicote devaneio; pensam poder parar desatino amendoado da ausência. Uma delas proibida de frequentar a escola; outra esperava atrás da porta vez mais. Outras três, vestidas de festa, lavam um pentatlo retórico cuja coroação de quaisquer como rainha da vida jamais acontecerá. Os maridos e os filhos médicos, formados em escolas estaduais, utilizados como bombas de demarcação moral. A irmã ablegada lambia tábuas a formar paredes da casa. O corpo cingia costura epidérmica por entre fibras da madeira até a unha do mindinho metatársico camuflar-se. Imóvel, parte da casa escondia sorriso jacarandá. O pai, com netos desaparecidos nos seus ombros, bebia o bar. Obstada pelas irmãs, nem sinestesiou o vento do chicote que segou-lhe as mechas claras. Seus esboços de menina morrendo aos poucos desde cedo.

O velotrol lançou-se bicicleta; depois medo. A terra aos solavancos na pista ondulada. O sonho em aplacar meu desejo por entre pernas de camisa infinita.

Tamanco cor de ocre, unha do maior dedo acolchoando-se no leito tal almofada. Duas estrelas aninhadas aos lóbulos das orelhas. Minha seção pescada nas redes da sinuca.

Aos treze te querer. A trepanação da sede rebatendo máculas na rua. Axiomas cristãos derretiam meu tempo, desprovido de coragem ao olhar cinco dedos acima dos teus joelhos.

A língua, imaginário nas casas de botões azuis, paralelando tua panturrilha ondulada.

Uma inquietação de domingo anemofiliza flores desnacidas neste desejo; sem medo aos treze.

O animal apenas se esconderia de tua sobrinha, a me querer do mesmo jeito muito tempo depois.

Cinco irmãs desejando a morte da mãe por motivos diferentes. Uma por conveniência, outra por alívio, outra por finanças, outra por ódio, outra por completo descaso. O nascedouro do tormento foi um esquecimento. A mãe oferecia fósforo dinheiro e pancadas como obrigado. Banhos forçados para afastar o cheiro quinzenal de caixão fechado. Divisões dos móveis ainda vivos. Uma irmã fantasiada de extrema unção. A doença manjedoura de tentáculos, aos afagos com o cotidiano, criariam um homem. Violento, sujo e em formato de serpente amarela. Soterrou masculinidade às entranhas. Cinco irmãs em trajes laboratoriais de proteção atômica, lançando-se à nuvem tóxica de enganos. Tempos disfarçados de cegueira. Caminhar, por entre os azulejos dormentes, enveredou-lhe saudade adocicada da panela de ferro até o desespero seco de um corredor esteira. A casa que ficava ao fundo da casa sempre propagou uma arena romana. Discussões desabaladas pelos motes das fraldas angariavam exércitos vindos da capital; hordas de maledicências marinadas por estertores pequenos burgueses. A mãe cagava-se abandonada.

Agora só restou-me os desavisos da vida. Uma coleção de placas que ao tentar juntar-se ao todo, separaravam-se.

O meu cheiro paralelo de morte parece carne de panela com polenta. Não saberia dizer se a sintaxe cefálica nasceu antes ou depois de tentar caminhar por entre roubos.

As hereditárias marcas do chicote subsistiram além da casa da coruja vulcanizada e, paralém do que se pode ver, moldaram o meritocrático mundo cujo molde é uma mentira. O velotrol extravasou rodas través nas costelas. Empenhou-me a um elástico resgate através dos aros adentro das veias do cachorro motociclista. Rodam em falso.

Sigo preso naquele banco sem encosto.