Os passos descrevem aclives em grupos
coletes laranjas primeiro
acompanhados por quepes em seguida
carros alegoria luminura
caminhões de cheiro aterro usando máscaras
fardas falsificando o calçamento
no meio da ciclovia um par de botas.
Mãos arrodeiam luvas
desmontam barracas ao meio
os passos param, esperam que as pernas imóveis no chão despertem
seria um desespero caso tivessem que sujar seus coletes com sangue
algumas delas insistem em permanecer ao chão
como sinal de luta
monges encapuzados ateiam fogo ao próprio corpo
queimam através d’um cachimbo solavanco
seus pés moldados ao calçamento
tal raízes nativas.
Alguns cães em formação de combate
mesmo sujos pela fuligem
arrastam mesas, panelas e fogareiros
seus cantis passados de pata em pata
hidratam seus tutores na corrida
pela mobília que resta da vida
em cima do cimento no teto do coliseu
uma flor uiva detalhe de fotografia
enquanto as águas sobem pelas pilastras
O solado das botinas liquefazem-se em cassetetes
serpenteando pelo meio fio oleoginosamente
destroem mandíbulas de cachorros e braços de gente
lá atrás o basculante defeca um canteiro
no meio da ilha de cimento armado
enche de terra a fileira, joga água e ferve como sopa
pessoas disfarçadas de semente atômica
plantam flores adolescentes
que em seis meses morrerão
embaixo do viaduto por falta de sol.